quarta-feira, 31 de janeiro de 2018





Por vezes, muitas vezes, olho para o quotidiano como se de um filme se tratasse.
Observo o que me rodeia e imagino que estou num enorme estúdio de cinema.
O senhor de óculos e camisa aos quadrados arruma as mercearias, posicionando-as vezes sem conta até que fiquem perfeitamente empilhadas. A senhora de meia idade lê atentamente a revista de mexericos, aquelas pelas quais passo sem sequer olhar. A rapariga, jovem, de cabelos escuros folheia o novo livro sobre o segredo da felicidade, aquele que me prende a atenção sempre que por ali passo.
Também eu faço parte das personagens deste filme. De caderno aberto descrevo o que vejo, o que sinto, enquanto beberico o meu café.
Uma melodia suave toca na minha mente, trazendo um movimento fluído a este bailado quotidiano.
Está frio, muito frio, mas toda esta gente que deambula à minha frente, aproveita os raios deste maravilhoso sol de inverno. Os casacos abrem-se, os olhos fecham-se e os rostos inclinam-se convidando a vitamina D a entrar.
O casaco amarelo mostarda, que eu tanto adoro, descansa na cadeira ao meu lado e também eu desfruto deste calor aconchegante.
Denoto um pequeno sorriso nestes rostos cansados. Escuto a conversa alegre e acesa das senhoras que se encontram para o pequeno almoço habitual, aquele que os funcionários já conhecem de cor.
- Já viu comadre, o sol que faz hoje?!
Sim, neste meu filme também se debate o estado do tempo. Podem faltar personagens, a banda sonora pode não ser a melhor e a história pode até ser do mais banal, mas a conversa sobre o tempo, essa, não poderá nunca faltar.
Eis que o chão se mancha de pequenas pingas.
Começa a chover, uma chuva grossa e pesada, e todo o semblante muda. Os sorrisos fecham-se, os casacos apertam-se, os passos apressam-se e a roupa estendida, quente do sol, pinga agora em cima das cabeças descobertas que ousaram sair neste dia de inverno sem um guarda chuva, eu inclusive.



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