sexta-feira, 23 de março de 2018





É levada rapidamente pela corrente. Parece voar, fantástica figura de braços abertos, cabelos soltos flutuantes, aba do casaco de peles enfunada atrás dela. Flutua pesadamente por entre dardos de granulosa luz castanha. Não vai longe. Os seus pés (os sapatos perderam-se) batem ocasionalmente no fundo e, quando tal acontece, levantam uma lenta nuvem de resíduos, repleta de silhuetas negras de esqueletos de folhas e que permanece quase imóvel na água depois de ela ter desaparecido de vista. Fitas de algas pretas-esverdeadas prendem-se-lhe aos cabelos e às peles do casaco e durante momentos os seus olhos são vendados por uma espessa faixa de ervas, que finalmente se solta e flutua, se enrola e desenrola e volta a enrolar-se.
(...)



Michael Cunningham baseia-se na vida da escritora Virginia Wolf e a sua obra Mrs. Dalloway para escrever este romance.
A descrição inicial que narra o suicídio de Virginia é tão dura quanto bela e é desta forma que o autor nos deixa imediatamente arrebatados.
Três mulheres com vidas distintas vividas em diferentes épocas, interligadas pela obra de Virginia e não só.
O livro é maravilhosamente descritivo e muito bem escrito. As últimas páginas são mesmo a cereja no topo do bolo.
Claro que agora quero mesmo muito ver o filme e ler Mrs. Dalloway.


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