Foi num passeio pela Baixa - depois de uma ida à Fnac onde não tinham a encadernação que eu queria - que encontrei este livro, uma edição de 1982 em perfeito estado, oferecida ao Zé António, pessoa que não conheço mas que faz parte da história deste livro. E eu que adoro livros em segunda mão, acabei por o colocar no mesmo sitio quando percebi que o preço deste livro usado era mais elevado do que o do mesmo livro novo. Felizmente o meu marido, que sabe o meu amor por livros antigos - este especificamente tem mais anos do que eu - não me deixou sair da Livraria sem o trazer.

- Lembras-te do lago? - perguntou ela com voz rouca, sob o impulso de uma emoção que lhe apertava a garganta, e lhe contraía a boca num espasmo, quando pronunciou a palavra "lago". Porque ela era ainda uma criança que atirava pão aos patos, acompanhada pelos pais, e ao mesmo tempo uma mulher feita que se dirigia aos pais, de pé junto do lago, transportando nos braços a sua vida, que à medida que se aproximava, crescia, crescia nos seus braços até se transformar numa vida inteira, completa, que depunha em frente deles e dizia: "Foi isto que eu fiz dela! Isto!" E que tinha ela feito da vida? Sim, o quê? sentada ali a coser naquela manhã junto de Peter.

Olhou para Peter Walsh; o seu olhar através de todos aqueles anos e daquela emoção atingiu-o hesitantemente; fixou-se nele, quase em lágrimas; e afastou-se e levantou voo, assim como um pássaro mal poisa num ramo e foge logo. Enxugou os olhos discretamente.

Mrs. Dalloway não é um livro que prenda imediatamente o leitor, pelo menos comigo foi assim, e confesso que levei algum tempo a habituar-me à escrita de Virginia, mas a certa altura tudo começa a fluir e torna-se difícil poisar o livro sem ficar a pensar nele.

Um dia, apenas um dia descrito em 191 páginas, e se para a maioria dos escritores seria difícil escrever um livro nestes termos, para Virginia parece muito fácil.

Este livro conta uma história muito simples e prende-se essencialmente nas pessoas, nos seus pensamentos e sentimentos. 

É maravilhosamente bem escrito, como se pode perceber pelo excerto que aqui deixo, e acredito que este seja um daqueles livros que nos revelam novos detalhes de todas as vezes que o lemos. Ainda agora o terminei e sim, a minha vontade é a de o ler já, novamente.