segunda-feira, 9 de janeiro de 2017



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Estas Palavras

Estamos sempre a falar de mudar. De marido, de casa, de emprego, de cor de cabelo, de alimentação, e em alguns casos de propensão mais clínica, de tudo mesmo. Sinceramente, acho ilegítima a pressão actualmente exercida sobre o verbo Mudar. Frases do tipo "os tempos mudaram", "tudo muda", "as novas mudanças" provocam-me ansiedade. Há uma falsa carga evolutiva depositada na palavra, que a eleva a condição máxima de benfeitora da vida. Quem não muda morre. É um desvario, uma corrida aos saldos da mudança. Vale tudo desde que implique Mudar. Começa na foto de perfil e só Deus sabe onde é que acaba.
Embora eu continue orgulhosamente em dia, nas quotas pagas à mudança, com uma morada nova a cada 2 anos, a verdade é que os anos ("não pesam" - detesto esta expressão) mas vão solidificando algumas verdades. A verdadeira época da mudança nunca acaba até que tudo nos pareça bem. Mas a mudança tornou-se urgência. É mais indecoroso permanecer, que mudar. Como se não existisse uma tremenda coragem no permanecer. Como se não fossemos dotados, de qualidades imutáveis, que nasceram em nós, só para isso, para permanecer. Como se não houvesse uma vitória em cada paciência e uma tremenda generosidade na tolerância ao que não muda, simplesmente, porque não tem que mudar. Fazer a apologia desmesurada da mudança, acentuada em cada despontar de um ano novo, é um saco cheio de angústias. O que é que andamos há 365 dias a fazer mal, que não possamos fazer melhor ou diferente? Há mais excesso de ego, que vestígio de cruzada, em muito ímpeto de mudança que por aí se vê. Há que mudar quando tiver que ser. E há que perceber, que há na permanência e no "saber ficar" uma mudança indelével e uma rebeldia, com autoridade própria. Não se deve bater palmas a todos os patetas que se despedem com um dedo em punho, nem a todas as pessoas que viram costas às relações com um "Basta" vitorioso. A mudança não se resume num gesto, nem numa frase redonda de Instagram, onde se vê uma tenda num céu estrelado, uma mochila cheia de nadas e uma frase parabólica em itálico. Para saber Mudar é preciso saber primeiro Permanecer.





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